O Centro Comercial da Barra
Plano Urbanístico não era novidade quando resolveram fazer Brasília, mas um time de arquitetos brasileiros teve carta-branca para criar a nova capital do país, usando as mais modernas técnicas de construção, e essa bem sucedida experiência os credenciou a diversos outros trabalhos importantes, aqui e no exterior, entre eles o Plano Piloto da Barra da Tijuca e Jacarepaguá, de autoria de Lucio Costa, onde Oscar Niemeyer projetou o Centro da Barra, um bairro planejado que prometia uma ocupação diferente daquela que a especulação imobiliária da Zona Sul havia feito em Copacabana, Ipanema e Leblon.
O Centro da Barra tinha tudo no seu lugar: áreas residenciais e comerciais, escolas e creches, clubes, bosques, praças e jardins. Na maquete, cuja foto está aqui ao lado, se pode ter essa dimensão do planejamento do bairro, da quantidade de prédios, sendo cilíndricos os residenciais reunidos em grupamentos (A1 , A2, A3, A4 e A5 ); da localização dos prédios de escritórios (B1 e B2); e do comércio ciliar (C1 e C2); do equipamento urbano (D1, D2 e D3) como escolas, creches e clubes de que seria dotado o bairro. Destaca-se nessa visão o enorme Centro Comercial posto bem no meio dos grupamentos de prédios residenciais. Na maquete se observa que não há pontes para veículos transporem o Canal de Marapendi, como hoje existem; a travessia para a praia se faz por uma passarela (E) que interliga as duas partes do Centro Comercial, uma na Av.das Américas (F1), outra na Praia (F2); os veículos conseguiriam atravessar o Canal de Marapendi por acessos postos como contornos entre as duas avenidas que o margeavam (G1 e G2); veículos também trafegariam pelas laterais do Centro Comercial, onde três grandes áreas de estacionamento para clientes, todos térreos ( H1, H2 e H3 ), estavam localizadas nos acessos às áreas destinadas às escolas dos grupamentos residenciais, áreas que foram pouco a pouco sendo desbastadas, em sucessivos desmembramentos e remembramentos dos terrenos, para dar mais espaço para os lotes próximos, destinados a edificações.
Até 2009, essas áreas destinadas ao Centro Comercial estavam vazias, mas o empreendimento em construção denominado Barra Prime Offices começou a implementar, ainda que parcialmente, essas idéias do Plano de Massa do Centro da Barra, ou melhor, interpretou-as para conseguir um resultado que, projetado a partir do pequeno trecho ocupado, permite adivinhar qual a pretensão de ocupação dos terrenos lindeiros quanto ao percentual de aproveitamento, porque existem restrições legais que, em nome do lucro, os construtores sempre querem contornar.
- ( A ) uma das trés areas destinada ao estacionamento térreo de apoio aos clientes do Centro Comercial e de acesso ao equipamento urbano dos grupamentos residenciais edificados a partir da Av. Afonso Arinos, região hoje conhecida como Bosque Marapendi, cuja associação de moradores (ABM) ocupou esta área, cercando-a, o que restringe as vagas de estacionamento nos sub-solos do Barra Prime Offices aos proprietários de salas na torre de escritórios e nos dois blocos de lojas.
- ( B ) outra área destinada a estacionamento de clientes do Centro Comercial e acesso a três escolas. Nesse local funcionou, primeiramente, o stand de vendas da Encol S/A, em seguida ocupado pela sede da Associação Bosque Marapendi (ABM), que, na área destinada às escolas, construiu quadras de tênis e uma piscina para os seus associados, que não puderam contar com o grande terreno destinado a esta finalidade (clube) no projeto original do grupamento.
- ( C ) projeção de ocupação do lote 6 do PAL 29.820 a partir do que foi licenciado para as lojas do Barra Prime Offices; essa parte (70%) que resta construir do Centro Comercial da Barra na parte da Av.das Américas, também só vai contar com vagas de subsolo para os proprietários das lojas, donde a importância do Lote 6 do PAL 29.820 e de sua destinação a estacionamento térreo.
- ( D ) última área destinada a estacionamento de apoio ao Centro Comercial e importante via de acesso de pessoas à escola, creche e ao bosque previstos no PAL 43.897, região hoje batizada como Parque Lúcio Costa. Essa área, que se relaciona com a ocupação projetada para o Lote 6 do PAL 29.820, hoje cercada pela Massa Falida da Desenvolvimento Engenharia S/A e já leiloada, está prevista no projeto original como passagem de pedestres entre o final da rua Cel.Paulo Malta Rezende e a Av. Evandro Lins e Silva, cujos moradores a utilizavam para caminhar até a praia pela ponte, pelo menos enquanto alugado à Construtora Aterpa S/A para fazer propaganda enganosa dos atributos do Villa Borghese. Se a destinação desse Lote 5, de estacionamento, arborizado, sem muros e edificações, não for cumprida, a escola a ser edificada vai criar um caos no trânsito que, hoje, já tem episódios freqüentes, seja com festas nos finais de semana, ou com carga e descarga de caminhões.
No Centro da Barra, a altura dos prédios, percentual de ocupação, recuos, afastamentos e passagens são aqueles estabelecidos no Plano de Massa, mas que devem ser combinados com regras posteriores, como, por exemplo, aquelas ligadas a aspectos de segurança, visando a prevenção e combate a incêndio etc, criando novas condicionantes para as construções. Essas restrições urbanísticas são o resultado de velhas e novas leis federais, estaduais e municipais, mas cabe aos órgãos da Prefeitura incumbidos do licenciamento examinar os projetos que lhe são apresentados para atender a toda essas normas, sem exceção. Uma das principais modificações feitas recentemente nessa legislação diz respeito à necessidade de ouvir a comunidade local quando as construções causarem impacto considerável na vizinhança. Nesse sentido, a pequena parte do terreno onde se constrói o Barra Prime Offices sinaliza o que pode ocorrer com o restante, se ali repetirem os percentuais de aproveitamento licenciados para aquele pequeno trecho. Na verdade, o impacto mais óbvio na vizinhança será no trânsito, porque já é hoje evidente o estrangulamento nesse cruzamento com a avenida das Américas, que certamente não vai melhorar com a inauguração do shopping e de sua torre de escritórios, mas ninguém consultou os moradores antes de licenciar o início das obras.